quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

FILANTROPIA VERSUS CARIDADE

Para se poder entender a diferença entre caridade e filantropia, haverá que explicar cada uma delas, para se tirar conclusões. Porque um amigo já me tinha dado este desafio, e porque estamos a atravessar uma época em que somos mais sensíveis, quer à caridade quer à filantropia, tomo a liberdade, de antes do Natal, deixar este pequeno texto, que espero elucidativo.
A palavra Filantropia vem do grego (amor) e (homem), e significa "amor à humanidade". O seu antónimo é a misantropia (Misantropia é a aversão ao ser humano e à natureza humana no geral. Também engloba uma posição de desconfiança e tendência para antipatizar com outras pessoas. Um misantropo é alguém que odeia a humanidade de uma forma generalizada. A palavra vem do grego misanthropía, a junção dos termos (ódio) e (homem, ser humano). O termo também é aplicável a todos aqueles que se tornam solitários por causa dos sentimentos acima mencionados (de destacar o elevado grau de desconfiança que detém pelas outras pessoas em geral). (Quantos há por aí?)
Os donativos a organizações humanitárias, pessoas, comunidades, ou o trabalho para ajudar os demais, directa ou através de organizações não governamentais, sem fins lucrativos, assim como o trabalho voluntário, para apoiar instituições que têm o propósito específico de ajudar os seres vivos e melhorar as suas vidas, são considerados actos filantrópicos.
História
O termo foi criado por Flávio Cláudio Juliano (331/332 - 26 de Junho de 363), que foi imperador romano desde 361 até à sua morte.
Uma das tarefas de Juliano como imperador, foi a de restaurar o paganismo como religião dos romanos, e neste intento, imitou a igreja cristã. Assim, criou o termo "filantropia" para concorrer com o termo cristão caridade, que era uma das virtudes da nova religião e que nunca tinha sido parte do paganismo em Roma ou Atenas.
Visão comum de filantropia
A filantropia pode ser vista limitadamente como a acção de doar dinheiro ou outros bens a favor de instituições ou pessoas que desenvolvam actividades de mérito social. É encarada por muitos, como uma forma de ajudar e guiar o desenvolvimento e a mudança social, sem recorrer à intervenção estatal, muitas vezes contribuindo por essa via para contrariar ou corrigir as más políticas públicas em matéria social, cultural ou de desenvolvimento científico. Os indivíduos que adoptam esta prática, naturalmente indivíduos que dispõem dos necessários meios económicos, são em geral denominados por filantropos ou filantropistas. A filantropia é uma das principais fontes de financiamento para as causas humanitárias, culturais e religiosas. Em alguns países a filantropia assume papel relevante no apoio à investigação científica e no financiamento das universidades e instituições académicas.
Uma falsa filantropia pode ser chamada pela gíria “pilantropia”.
Já a “Caridade” é uma das virtudes teólogas e uma das sete virtudes. Tem o mesmo significado que o Ágape. (Ágape (vem do grego, transitando para o latim, como "agape"), é uma das diversas palavras gregas para o amor. A palavra foi usada de maneira diferente por uma variedade de fontes contemporâneas e antigas, incluindo os autores da Bíblia. Muitos pensaram que esta palavra representava o amor divino, incondicional, com auto-sacrifício activo, pela vontade e pelo pensamento. Os filósofos gregos nos tempos de Platão e outros autores antigos, usaram o termo para denotar o amor a um esposo ou a uma família, ou a afeição para uma actividade particular, em contraste com “philia”, uma afeição que poderia ser encontrada entre irmãos ou a afeição assexuada, e eros, uma afeição de natureza sexual.)
É um sentimento que pode ter dois sentidos, o sentimento para si mesmo, e ao próximo.
O Cristianismo afirma que a caridade é o "amar ao próximo como a si mesmo". E afirma que se uma pessoa não se amar, adulterando e mentindo a si mesma sobre as coisas que a rodeia, defendendo, somente, o seu ponto de vista, sem pensar no ponto de vista divino, pode estar "amando" o seu próximo, mas da sua maneira, pois quanto mais buscar o esclarecimento divino sobre como amar-se a si mesmo, maior poderá ser o amor desta pessoa pelo seu próximo.
E afirma que nos dias actuais muitos estão buscando em Cristo, mas à sua "maneira", não procurando em arrependerem-se das suas acções, pois, em si mesmos, não acham culpa alguma, pois defendem os seus próprios pontos de vista. Esquecem-se que o salário do pecado é a morte, e quem não se ama (caridade) peca, pois, quem exerce a caridade, não peca, pois acaba amando a Deus, mais do que a si, mesmo, ouvindo assim a sua voz e colocando em prática a verdade que recebe. Dizendo, que quem ama a Cristo, confirma também o Senhorio de Cristo sobre si mesmo, abandonando tudo por Ele, pois um Servo abandona tudo pelo seu Senhor, vivendo somente para ele.
Aliás, Jesus Cristo ordenou: "Amar a Deus sobre todas as coisas", isto para os cristãos constitui a parte fundamental da caridade.
Quem tem o amor, prova, não somente com palavras mas, sim, com acções. Abrindo mão dos costumes dos gentios por amar a Deus sobre todas as coisas, seguindo a sua voz e os seus mandamentos.
Resumindo e usando as palavras do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, "a caridade é a virtude teóloga pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus. Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei. A caridade é «o vínculo da perfeição» (Col 3,14) e o fundamento das outras virtudes, que ela anima, inspira e ordena: sem ela «não sou nada» e «nada me aproveita» (1 Cor 13,1-3)".
São Paulo disse que, de todas as virtudes, "o maior destas é o amor" (ou caridade). O Amor é também visto como uma "dádiva de si mesmo" e "o oposto de usar". A caridade é motivada pelo sentimento de compaixão, de amor ao próximo ou a uma causa. Pode partir de uma individualidade isolada ou de um grupo mais numeroso.

A Filantropia, por sua vez, é uma espécie de beneficência ("amor a humanidade") que é planeada socialmente e que guarda algum interesse anterior. As organizações filantrópicas, normalmente, financiam causas humanitárias e apóiam os estudos científicos, mas sempre esperando alcançar algo em troca disso.
Para se fazer caridade não é indispensável que se tenha recursos financeiros. Para ser filantrópico é. A caridade sem dinheiro, por exemplo, pode ser aquela que praticamos, no dia a dia, nas pequeninas coisas... Ouvir um idoso com paciência, auxiliar na educação de uma criança com dificuldades na escola, doar um pouco do tempo livre para visitar alguém que esteja enfermo, ser voluntário, levantar o ânimo de alguém que está triste, etc. No final das contas, ser caridoso, sem utilizar dinheiro, é escolher a prática do bem como um modo de vida... Por outro lado, ser filantropo, na maioria das vezes, é estar vinculado à algum projecto de desenvolvimento e mudança social, tentando, muitas vezes, preencher uma lacuna deixada pelo Estado. Por isso, é muito comum observarmos empresas privadas que se qualificam como filantrópicas. Na verdade, uma observação mais cuidadosa de tal filantropia, nos fará perceber que elas nada mais fazem do que defenderem, antes de tudo, os seus próprios interesses. É claro que uma empresa de celulose, por exemplo, que ofereça uma certa quantidade de cadernos, "gratuitamente", para algumas escolas públicas, em troca do recebimento de papéis já utilizados (recicláveis), está promovendo, sim, um bem para a comunidade em questão. As crianças terão cadernos! Todavia, é necessário observar que, muito antes da simples motivação de ajudar as pessoas, outros interesses, muito mais motivadores, aos olhos mercantis do empresário, instigam essa "boa acção". No caso citado, a empresa pretende, antes de mais nada, ser reconhecida socialmente como aquela que é "aliada" às causas humanitárias e, ao mesmo tempo, ecologicamente correcta.

Ora, naturalmente, esse comportamento, chamará a atenção dos consumidores que passarão a privilegiá-la quando necessitar adquirir algum produto do seu género.Nesse caso, a filantropia é utilizada como estratégia de marketing... A filantropia faz alarde. Dá com uma mão e aponta, para o que faz, com os cinco dedos da outra para que todos vejam e a reconheçam como a "boazinha". A caridade, ao seu turno, é desprentenciosa, é gratuita, não guarda interesses escusos.

Por isso, é tão difícil encontramos pessoas que realmente praticam CARIDADE, com todo a carga semântica e pragmática que essa palavra carrega em si.

Mas, salvo melhor opinião, a caridade é algo que se extingue no momento da sua prática, enquanto a filantropia, pode e deve ter continuidade. Mas, sou a favor desta, quando ela tem como pressuposto, a dignidade humana. E para isso, é preciso muito mais que oferecer cadernos para uma escola, recebendo em troca papel reciclável.

Só para exemplificar, transcrevo este pequeno texto, escrito sobre a pessoa, do meu avô paterno: “Tomás Pereira Roldão enquanto Presidente da Comissão Paroquial Republicana local, exerceu grande influência junto do governo para que fosse instalada na Marinha Grande a sua escola industrial, que só viria a abrir as portas em 1920, com uma aula de desenho. A sua acção a favor do ensino já se tinha manifestado em Dezembro de 1909, com a criação do “Núcleo da Marinha Grande” da Liga Nacional de Instrução. Organizou movimentos de apoio às crianças pobres, de modo a serem criadas as condições indispensáveis para que fizessem um regular percurso escolar”.
Quanto à caridade, era quando se pediam vagões de cereais, concrectamente, milho, para fazer pão, para matar a fome à população.

No estado em que o país se encontra é fundamental praticar caridade, para acorrer às necessidades imediatas, mas é necessária muita filantropia, mas tendo como pano de fundo a dignidade humana. De outro modo, a filantropia, não é mais que a caridade pagã de Juliano.


Miser vel ignavissimo cuique ludibrio est.” [Epígrafe de Fábula de Fedro 1.20 / Rezende 3547] O infeliz é motivo de riso até para qualquer covarde. ■Ao caído todos se lhe atrevem. ■Leão moribundo, cachorro lhe mija. ●Audet vel lepus exanimo insultare leoni. ●Mortuo leoni etiam lepores insultant.

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